É oficial, começou a chuva. Ontem à noite, 24 de Maio choveu pela primeira vez este ano em Bolama, uma semana antes do que tinha verificado em Mentem em 2004 e numa data tudo menos oportuna. A cobertura da fábrica apesar de estar quase acabada, falta o quase, por isso ontem à noite soube à partida que hoje ia encontrar poças na fábrica, não sabia era qual a extensão. Felizmente não houve danos de grande monta, algumas mesas molhadas, que já foram secas e mudadas para sítios onde não chove, a castanha (cerca de cem toneladas) está fora de perigo imediato, e o elevador de alimentação, autoclaves e caldeira encontram-se descobertas, por isso essas não tiveram sorte nenhuma e foram fustigadas violentamente por umas quatro horas de chuva tropical. Aparentemente não houve danos e já tratei de as secar devidamente para evitar ferrugens desnecessárias.
Esta primeira chuva marca o início, mas pouco mais é do que uma amostra. Um aviso do que há de vir. Ainda assim estas chuvadas conseguem ser aterradoras, já que, tal como aconteceu em 2004 foi precedida em uma tempestade tropical com muito vento, relâmpagos que iluminam tudo à volta e trovões que parecem anunciar o fim do mundo. As gotas são enormes e a cadência, quando no seu esplendor máximo chegam facilmente aos meio centímetro. Uma qualquer corrida de 3 metros debaixo desta chuva é o suficiente para chegarmos ao fim completamente encharcados. A primeira tempestade faz lebrar a CNN a transmitir os bombardeamentos em Bagdag, com clarões a toda a hora e barulhos de explosões violentas, uma aurea de caos de destruição no ar!!
Felizmente, nesta altura as chuvas são esporádicas e normalmente nocturnas, pelo que de dia está o sol e o calor habitual. Sente-se no entanto um aumento da humidade que em nada ajuda a suportar os já por si, insuportáveis dias de calor. Se chegarem os materiais que necessito para acabar e arranjar as partes descobertas e contando que não teremos problemas de maior para o fazer (problemas sei que terei, resta saber a gravidade) conseguirei ter tudo arranjado até ao final da próxima semana. Por isso em relação à fábrica (sim, sou daqueles operários musculados tipo coca cola light de fato macaco manchado... ou não) o problema está parcialmente e potencialmente resolvido sem danos visíveis (até ver). Mas as chuvas representam mais problemas que os óbvios. Antes de mais vão dificultar o que resta da campanha de caju, directamente com o aumentar da humidade do solo e das castanhas que, em certos casos, provocará a germinação das sementes o que directamente causa o desaproveitamento desse fruto e indirectamente vai prejudicar o pomar de cajus onde se encontra porque com as primeiras chuvadas começam a aparecer, entre outras coisas, os lacraus e as cobras, que assustam e afugentam (e não só) a população dos campos, diminuindo consideravelmente a apanha diária, que quanto mais tarde for efectuada, maior é o risco de não ser realizada (desculpem a seca, mas tinha de inserir alguns dos meus conhecimentos sobre a matéria).
Para mim pessoalmente as chuvas apresentam ainda outros problemas. Antes de mais os mosquitos! Está tudo cheio de poças e pequenos canais de água, muitos deles estagnados, autênticos viveiros de mosquitos, por isso sei que mais dois ou três dias e o inferno estará à solta em Bolama. Mas não só os mosquitos, todo o tipo de vida animal, principalmente insectos cresce em quantidade num ritmo exponencial, pelo que a figura de expressão "entre a bicharada" não vai ser figura nenhuma mas sim uma realidade. Lá vou eu ter que me habituar ao cheiro do repelente e ficar sujeito a apanhar malária um dia destes. Por fim tenho a casa, supostamente provisória, que não está totalmente preparada para as chuvas e eventualmente, como a minha sala de jantar é uma varanda, já sei que além da invasão dos bichos arriscar-me-ei a tomar também uns belos banhos (estes pelo menos não serão de caneca!).
Por fim e como não podia deixar de ser, as canoas! Sim, já me fizeram relatos completamente surreais de travessias em que se apanham tornados a meio do trajecto! Deve ser uma experiência alucinante, restando saber se é das que se sobrevive para contar... Com a minha sorte um dia destes (quiçá já amanhã) saberei em primeira mão que coisa é essa de passear no meio de um tornado!
Enfim, Viva a Chuva!
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