"Sejamos claros. A Igreja Católica tem todo o direito de impedir o casamento dos seus padres, recusar o sacerdócio às mulheres, negar a comunhão a divorciados, condenar a homossexualidade e os casamentos entre gays, proibir o uso de preservativos aos seus fiéis, indignar-se com a legalização do aborto e atacar a eutanásia. São matérias que devem ser discutidas e resolvidas no seio da Igreja, isto é, entre a hierarquia e os seus membros. Só é padre quem quer e os cidadãos são livres de obedecer ou não às regras do Vaticano. Não deixa de ser surpreendente, por isso mesmo, a preocupação de muitos ateus, agnósticos e ferozes inimigos do catolicismo com o conservadorismo da Igreja em muitas matérias, nomeadamente morais, e as imensas campanhas públicas contra a discriminação sexual, repetindo palavra por palavra os debates que se travam na sociedade civil sobre a participação das mulheres na vida empresarial ou política.
Mas se a Igreja Católica, a exemplo de outras confissões religiosas, é livre de impor regras e práticas aos seus membros, está necessariamente obrigada a respeitar a lei dos países em que actua e não pode, em circunstância alguma, apelar ao crime, fazer a apologia de comportamentos criminosos ou minimizar actos que os códigos penais e as próprias sociedades condenam sem qualquer hesitação. E como ningém está, ou devia estar, acima da lei, sempre que a instituição ou algum dos seus responsáveis a viola deve ser perseguido e condenado pela justiça deste Estado que ainda é de direito, embora esteja cada vez mais mal frequentado.
Acontece que um padre católico, de seu nome Domingos Oliveira, vigário da diocese do Porto, afirmou publicamente que é mais grave um aborto do que o assassínio de uma criança. O referido sacerdote fez esta afirmação bárbara dentro de uma igreja e repetiu-a na comunicação social. Para este responsável da Igreja Católica, uma mulher que faça um aborto deve ter uma pena bem mais severa do que o assassino ou assassinos de uma criança. Para o padre, a razão é simples o feto não pode defender-se, gritar ou chorar, ao contrário, por exemplo, da Vanessa, de 5 anos, que foi metida em água a ferver, agredida, abandonada e, já morta, atirada ao rio Douro. Este cidadão está, assim, não só a desculpabilizar um crime hediondo como a promover a sua prática na sociedade portuguesa. E como quem incita ao crime ou é cúmplice de criminosos está a violar a lei, o Ministério Público já deveria ter aberto um processo a este senhor sacerdote. Mas não. O padre continua a andar por aí, nos púlpitos e nas ruas, a dizer barbaridades. Impunemente. Em nome dele e da Santa Madre Igreja."
Aqui.
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