A sua crónica Panteras rosas no último Expresso de 21 e Maio foi de tal forma relativista (actividade que o próprio João Pereira Coutinho condenou há pouco tempo) perante os homossexuais que me senti na obrigação de lhe dar umas achegas da minha lavra.
Começa por estranhar o facto do orgulho gay ser preocupação primeira no texto deixando para o fim a homofobia: Não será que os assuntos, para um observador da sociedade, não deveriam de vir em ordem inversa? Será que o orgulho gay deve ser mais importante que a discussão em torno da homofobia? O João Pereira Coutinho, através do seu texto mordaz, brincando com o orgulho, não só em se ser gay, mas, também, em ter coragem em assumi-lo - coragem essa que muitos heterossexuais nunca teriam - escapa-se-lhe esse ponto de vista, essa percepção da realidade que até muitos homofóbicos (quantos encapotados no seu modus vivendi politicamente correcto) diminuem para uma simples manifestação de orgulho homossexual.
Mais, o texto mostra que existe uma incapacidade em compreender esse ponto de vista, porque só podemos ter orgulho nos "pais" ou "dos filhos" ou ainda "da carreira" ou "da carteira" e orgulho na sexualidade é "anormal".
O João Pereira Coutinho, tal como eu, é português. Latino, pois claro! Mulheres e touradas. Praia e corpo bronzeado. Camisas abertas até ao peito (que se quer farto em cabelame) e "o que tu queres sei eu!" Carros tunning e futebol para homens e não para meninas. Pois, caro João Pereira Coutinho, o que lhe escapa é que manifestações de heterossexualidade exacerbada, descabida, ordinária, inconveniente, desrespeitadora e violenta são constantes na sociedade portuguesa: Piropos de gosto duvidoso dos senhoras das obras, violência doméstica protagonizada pelo chefe de família após uma valente noite de copos onde mostrou ser homem para qualquer um, meninos tunning que se matam para mostrar a virilidade a terceiros, assédio sexual do chefe que se acha dono da empregada, meninos-bem que encarnam o marialva sedutor na festa do cavalo na Golegã (com fado, mulheres e "toiros" à mistura) e violações porque "ela queria". São isto as demonstrações de heterossexualidade que achava não existir ("impensável")... De facto, os heterossexuais não andam aos pulos a mostrar a sua sexualidade, mas bem que berram, falam, inventam e espalham-na aos sete ventos para que todos fiquem a saber da sua virilidade, lá isso fazem.
Se quer que lhe diga, prefiro uma marcha gay por ano que uma constante exibição dos dotes sexuais de homens estranhos na rua: Não que seja mulher e que seja incomodado diariamente por esses espécimens, mas ao menos não vejo figuras tristes, e em jeito de caricatura, a dizerem "o que tu queres sei eu!".
Agora, diga-me lá, será que os heterossexuais são assim tão normais? Digo isto porque, de uma forma até mais que esperada, consegue transmitir que os homossexuais são "anormais": "só perde tempo com a própria sexualidade quem não se sente muito à vontade com ela"; logo à frente continua a homília e minimiza a homofobia.
Não se esqueça daquela frase cliché, que os homens que têm muitas mulheres são uns heróis, mas mulheres que têm muitos homens são... É a diferença: Homem que é homem é como esses homossexuais entre pulos e gritos cheios de orgulho, mas ao contrário!
Melhores cumprimentos
H.
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