Costuma-se dizer “ano novo, vida nova”. Seria correcto senão existisse o facto da vida em questão estar alojada num corpo que, não só não ajuda, como caminha, inexoravelmente, para uma degradação chamada velhice que teimamos em fugir.
Queria acreditar nesse ditado: O “povão”, essa chusma mais literária que real que denomina a classe média a que qualquer pessoa de classe média não quer pertencer, vai mais longe: Toma resoluções.
Tomar, mesmo tomar, só tomo os Ilvicos (imperdoável desvio neo-liberal. Tomo a resolução para 2005 de tomar genéricos) quando o pingo no nariz se transforma numa estalactite cristalina em que o olhar do nosso interlocutor fica prisioneiro e nós achamos que estamos a fazer figura de urso. Constipado, ainda por cima.
Mas eles, os “populares” dizem que tomam resoluções. Na verdade eles não tomam nada além das doze passas engolidas à pressa à meia noite. Quem toma resoluções são as figuras públicas entrevistadas por acutilantes jornalistas que se esqueceram do cérebro no útero da mãe e preenchem o programa “Extase” (SIC, Sábados, ao início da tarde, mesmo num dia de anhanço de ressaca o corpo teima em rejeitar este programa) de lugares comuns de gosto duvidoso: é essa merda do jet-oito. Asco nessa gente viciada em sorrisos pepsodent, oca e que tudo de bem diz sobre tudo o que acontece: É proibido ser infeliz e não ter “projectos para o futuro”.
Futuro, mesmo futuro, apenas quem sabe que tem futuro está descansado. Os outros vivem o futuro dia a dia esperando que o futuro não acabe amanhã.
PS: Bom ano para quem o puder ter. E aceitar.
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