Existem pressões sobre os jornalistas e comunicadores como afirma José António Saraiva na sua crónica (ou homilia) de sábado no seu “Expresso”. Não esperava nada de diferente daquilo que JAS disse no seu texto: A defesa com unhas e dentes deste actual executivo governamental. Se vivêssemos num país surreal diria que Luís Delgado e JAS andaram de bibe a saltar e correr de mãos dadas... Mais, JAS considera que muitos são pressionados (pelos patrões, igreja, em jornalistas, etc.), mas quem tem coragem continua o trabalho, quase esquecendo, que numa sociedade democrática, o simples facto de se admitir que há pressões nos jornalistas já quer dizer que alguém não convive bem com a liberdade de expressão.
Mas não. Não vivêmos num país virtual embora às vezes assim pareça. Nesta trapalhada do caso de Marcelo Rebelo de Sousa, o poder (interpretado pelos actores do governo e seus boys) do governo PSD-CDS-PP deu uma machadada num ramo retorcido da sua árvore: MRS, na sua comunicação semanal num canal televisivo era, no mínimo, cáustico. O governo manda um recado através de Rui Gomes da Silva, alertando para a necessidade do “príncipio da contrariedade”. MRS é chamado a uma conversa com Miguel Paes do Amaral.
O que pensar, então, da comunicação enviada à Lusa do ex-presidente do PSD referindo que, “na sequência da conversa da iniciativa do presidente da Media Capital, Miguel Pais do Amaral, decidi cessar, de imediato, a colaboração na TVI, a qual sempre pude livremente conceber e executar durante quatro anos e meio”. Durante quatro anos e meio? Então a partir dessa data? Demitiu-se porquê? Deixaria de têr as condições de que usufruiu durante os quatro anos e meio?
Um ponto de vista: “Júlio Magalhães, um dos pivôs que acompanhava Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário dominical, alega que “a saída do professor está relacionada com as declarações de Rui Gomes da Silva. Disso ninguém tem dúvidas. Foi uma vergonha aquilo que foi dito por um dos ministros do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa era a pessoa que vigiava não só a direita como a esquerda, e os governos. Ele era cáustico com todos e, na minha opinião, era neste momento a pessoa mais importante do País”. Júlio Magalhães adianta: “Quiseram silenciá-lo, vieram dizer que ele falava falsidades na televisão e ele, na minha opinião, tomou a atitude que achou melhor. Alguém entendeu que o País fica mais rico desta forma, com as palavras do ministro Rui Gomes da Silva e o professor fora da TVI”.” [CORREIO DA MANHÃ, 7OUT aqui].
De facto, considero que a direita portuguesa que não concorda que houve censura está a tapar o Sol com a peneira. Assim, censura e faltas de liberdade de expressão são comuns nos media nacionais. Basta vêr como recentemente houve problemas da redacção do Público com seu director José Manuel Fernandes por causa de uma discordância deste em publicar um pedido de desculpas da, então, Ministra da Finanças, Manuela Fereira Leite. Indo mais para trás tivemos o problema de “Humor de Perdição” qu caricaturava Cavaco Silva. Tivemos ainda a censura mais que óbvia da (não candidatura de Saramago a Nobel por Sousa Lara ou o “esquecimento” da entrega do filme “Camarate” de Luís Filipe Rocha à academia dos óscares para concurso de melhor filme estrangeiro. Lembro-me, ainda, do caso da Lusomundo com o filme “Crash” que no cimena tem 100 minutos e na versão DVD que esta empresa comercializa tem apenas 86 como anunciado no “Expresso” na altura ou do caso da «A Última Sedução» que a SIC emitiu imensamente cortado e com diálogos adulterdaos: Será isto outra coisa que censura?.
Mais ainda, se não houvesse pelo menos a dúvida de anomalias seria normal que a Alta Autoridade da Comunicação Social “confrontada com tão graves afirmações e tendo em atenção os posteriores desenvolvimentos do caso, tenha deliberado abrir um processo”.
Pensar que por haver um caso mais mediático de censura é “um atestado de menoridade à inteligència dos portugueses” é o mesmo que afirmar que afinal vivemos numa democracia perfeita e onde todas as leis são cumpridas integralmente. Nada mais errado: Existe censura encapotada e há leis que não são cumpridas ou, então, são mal cumpridas com intuitos escuros. Esta é a realidade: quem diz que há liberdade de expressão em absoluto é que está a passar um atestado de minoridade de inteligência aos portugueses...
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